Sunday, May 13, 2007

o anarquismo suprematista






Antes de empreender estas pinturas caí num texto, algo naif de Rodchenko - citações de Stirner e Whitman - vitalismo nihilista. Mas é bom ver estes dois compinchas juntos.






«Na base do meu empreendimento coloquei o nada» (Stirner)






«Sempre o músculo, sempre a audácia.



O que a vida reforça, reforça-o a morte.» (Whitman)






«O assassinato serve de autojustificação para o assassino. Ele esforça-se em provar que o nada existe.» (Weininger)






«Eu devoro-o logo no momento em que exponho uma situação, e sou «eu» quando o devoro. O facto de que me devoro apenas mostra que existo.» (Stirner)






É divertido ver Stirner como uma possível ponte entre o budismo de Nagarjuna e as teorias de auto-reconhecimento de Abhinavagupta. É òbvio que Abhinavagupta, e a tradição que o precede, se constroi contra o edificio dialético de um budismo descendente de Nagarjuna.






Mas a frase de Weininger também nos abre (sem o saber)a essência do budismo não só como um assassinato, mas como um auto-assassinato (suicidio?). A legitimação é quase sempre assassina - é um esforço para provar, e não uma prova. A legitimação das ideias religiosas ou politicas provocou incontáveis milhões de assassinatos. Mesmo entre os budistas as querelas ideológicas são mortais. A vantagem de Nagarjuna é que o seu sistema de refutação é tão radical que nada fica de pé. Mas ao mesmo tempo ficamos com a sensação de que aquilo foi um esforço inútil. A refutação lógica não anula as mais elementares experiências que temos, passada a excitação refutativa e a embriaguês que ela provoca . E pela mesma razão Stirner em vez de falar em «provar» (nestas citações) fala antes em «devorar». Solipsismo? Talvez. Stirner, Whitman e Weininger transpiram a confuso orientalismo post-hegueliano - o anarquismo suprematista faz colagens com eles, para que a nossa compreensão dos quadrados negros seja mais acutilante.






Pelo mesmo motivo não pude deixar de associar a já longiqua herança suprematista ao tantrismo e as figuras diagramáticas que tanto bududistas quando hinduistas tantricos cultivaram. É uma confusão parecida com a dos suprematistas. Foi da fusão de imagens tantricas e suprematistas que me apareceram estas pinturas. Evohé!

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