Sunday, May 27, 2007

balancé



Vindo de uma exposição, em Janeiro, de tecnologias fotográficas e palavras a nadar nelas, e de uma exposição onde surgiam esculturas/instalações, caí nos dias seguintes num catálogo da Ana Jotta onde um cão se ajoelhava perante uma pintura que reconheci como minha, uma linha vertical que no fim se desvia (marotamente) para diagonal ascendente. O quadro chama-se «Proença-a-velha». A minha pintura, parodiada, achincalhada, ou irónicamente venerada já começa a ser velha, ou pelo menos atingiu a maioridade dos 21 anos. Não sei onde pára, mas está reproduzida num catálogo, daqueles catálogos igualmente velhos a que ninguém, exceptuando os especialistas nessa época (existem?) ligam. Constatei, ao recolher imagens dispersas e «antigas» que estão dispersas em galerias ou amontoadas no meu atelier, um filão de imagens mais-ou-menos abstractas onde fedem as influências de Malevich, Soll Lewitt, Picabia, Frank Stella, para começar em alguns nomes do poletão da história de arte do sec. XX, assim como sombras «regionais», «tugas» ou «provincianas» como o Lapa e o Ângelo. Sou muitas vezes influênciado por obras minhas que reencontro, como se quizesse recuperar um filão que se quebrou abruptamente, ou como se o tema da conversa dessas pinturas só se tornasse evidente muitos anos depois. Há coisas que temos que esperar muitos anos para dizer, ou para continuar a dizer, depois de termos tagarelado outras coisas, bem diversas, ou de termos escutado o que muitas outras obras de arte der outros parecem ter para dizer (neste caso, o que julgo que elas dizem) neste intermezzo sem intermezzos que é a dita arte ao longo dos tempos.

Daí saírem estas pinturas, umas 100 e algumas outras anexas, que saíram de rajada, como uma necessidade impensada, se calhar fora do tempo, não sei se em contra-ciclo a esta época que acabará também como época passada, quiçá bem passada, quiçá mal passada. Foi esta centena precedida por uns desenhos vorticistas-tântricos, em homenagem quer aos vorticistas (e em particular a um desenho de Malevich que traduzi a «côres» e em «grande» no ano da graça de 1982), quer aos bem/mal afamados diagramas dos tântricos. Meandros (suspeitos?) tântricos onde recentemente encontrei um autor que me parece tratar de alguns temas artisticos (da dita cuja estética) de uma maneira que me é especialmente simpática: refiro-me a Abhinavagupta. Exuberância, encantamento, apologia do ficcional, etc.

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