Sunday, May 13, 2007

why naughty?



Abstracções marotas. Sim! Não sendo o «maroto» forçosamente sexual, ou erótico, é-o porque nada escapa a este domínio. A marotice sublinha a elipse, mostrando claramente, através da alusão, alguma indecente ausência. Por isso se o maroto mostra claramente o sexual é porque quer através deste espremer outros sumos. Mesmo a burocracia e a contabilidade são por vezes marotas - o que é difícil.


No fundo, e retomando algumas ideias do BABSTRACT, não considero que a prática de uma arte dita abstracta, com ar geométrico, tenha que ser necessáriamente iconoclasta. Se pinto uma grelha de quadrados negros não tenho que desprezar outras possibilidades de produção artistica que partam de pressupostos e de uma ética que não aquela que contribuiu para as minhas abstractices. A minha singularidade e as generalizações opinativas ou canónicas que dela saiam não são uma negação das necessidades, pulsões, motivações e convicções alheias.


A arte abstracta tradicional geométrica (a do século XX), regra geral, encetou um namoro com o Absoluto, ou pelo menos acenou com este termo. O absoluto é o que absolve. Por isso a minha perspectiva «absolutista» é a de desculpabilização. Quem se exercita na perpectiva do absoluto, mesmo com um manto maroto para os voyeuristas se excitarem um pouco (ou muito), não pode entrar numa onda de anátemas e outro género de condenações.


Por isso, ao contrário de Mondrian, que falava da arte como um processo de desnaturalização, penso que a arte é o suco que nos abre para a intensificação das nossas naturalidades, assim como para o fervilhar, sempre malandreco, dos fluxos da natureza, seja ela uma suposta mãe, uma atarefada madrasta, ou a natureza das nossas naturezas.

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